sábado, 30 de abril de 2011

Frase do dia: a imparcialidade da ciência

A frase do dia é de um dos principais químicos do século XX, Linus Pauling (lembra da distribuição eletrônica?). Pauling foi a única pessoa a ganhar individualmente dois prêmios Nobel, o da paz e o de química.


"A Ciência não pode ser interrompida. O ser humano irá acumular conhecimento, não importam quais sejam as conseqüências - e não podemos prever quais serão." Linus Pauling


Não consigo ver esta frase e deixar de pensar em pessoas que sempre se apressam para falar das coisas ruins que surgiram devido ao avanço científico, como a bomba atômica.

A ciência em si é imparcial e amoral. O conhecimento é a única busca importante para um cientista. Como este conhecimento será usado cabe à população em geral decidir, por isso, antes de ser contra ou a favor de algo, tente primeiro entender. Estudar não dói nada.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Frase do dia: a manipulação mental da religião

Hoje trago uma frase do físico estadunidense Steven Weinberg, mais um ganhador do Nobel fazendo sua aparição no meu blog.


"Com ou sem religião, pessoas boas farão coisas boas e pessoas más farão coisas más. Porém para pessoas boas fazerem coisas más, é preciso religião." Steven Weinberg


Esta frase é interessantíssima, pois toca direto e de forma profunda nas questões sobre a natureza humana. Algumas pessoas possuem naturalmente uma índole má, e outras boa. A religião é o que possibilita uma cegueira mental forte o suficiente para fazer com que alguém haja de forma oposta ao que sua moral permitiria em outra situação.


É o que vemos quando uma pessoa aparentemente normal mata médicos que trabalham em clínicas que realizam aborto: http://veja.abril.com.br/220605/p_084.html

Vídeos: Dance, monkeys dance

O vídeo que postarei hoje é um pouco antigo. Encontrei-o por acaso no notebook da biologia-UFV, quando fui apresentar minha monografia. Considero um verdadeiro achado. Diz bastante sobre a natureza humana.






Como um usuário comentou no youtube: Ácido, direto como um soco na "boca do estômago"!
Ótima definição.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Frase do dia: conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará

Hoje trago uma frase do astrônomo norte-americano Carl Sagan; cético assumido e defensor da ciência. Escreveu "O mundo assombrado por demônios" e "Pálido ponto azul". Foi autor ainda de "Cosmos", que acabou sendo uma série premiada de televisão.
Começo a postagem com um título retirado da bíblia, mais precisamente de João 8:32. A frase é muito boa. Pena que no contexto, foi usada para algo sem evidências.


"Para mim, é muito melhor compreender o universo como ele realmente é do que persistir no engano, por mais satisfatório e tranquilizador que possa parecer." Carl Sagan


A frase acima advoga contra a noção de um pai celestial, sempre pronto para nos proteger e perdoar. Por mais frio que a verdade possa parecer, é sempre melhor conhecê-la do que viver com um véu cobrindo a visão.
A ciência realmente vai em busca da verdade, possibilitando a cada um, ser um livre-pensador.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Evidências evolutivas: o passado impresso no corpo I (órgãos vestigiais)

    A evolução é fascinante, tanto que tem sido assunto recorrente nas minhas postagens. Não poderia ser diferente para alguém que gosta de tentar entender a natureza.
    Vejo a biologia exatamente como Dobzhansky, para quem, sem a evolução, não passaria de um apanhado de fatos interessantes, mas sem conexão.
    Um dos pilares das ciências naturais, e praticamente unanimidade entre os cientistas, a evolução não cansa de mostrar-se para quem tem olhos atentos. Em contrapartida, é impressionante o número de opositores que encontramos entre o público em geral, em sua maioria por motivos religiosos, ou simplesmente por desconhecimento puro e simples da disciplina.
    Este artigo é o primeiro de três, em que focaremos principalmente nas evidências morfológicas encontradas em diferentes grupos de seres vivos.
    Os mecanismos evolutivos bem podem ser descritos, grosso modo, como “gambiarras” da natureza. Os leigos costumam imaginar a evolução como uma busca da perfeição, e que o ser humano seria seu design perfeito. Alguns chegam a imaginar que se a evolução é verdade, os outros animais deveriam evoluir e tornar-se semelhantes a humanos. Uma tremenda bobagem! Todos os seres atuais estão no mesmo estágio de evolução, o que acontece é que alguns preservam mais características primitivas (plesiomórficas). Não existe “mais evoluído” entre seres ainda viventes.
   Imagino que a culpa de tal confusão esteja no próprio nome que dá a impressão de uma sequência de melhorias.
    O dicionário Aurélio resume a evolução da seguinte forma:

Biol. Segundo o darwinismo, processo que, ao longo de sucessivas gerações, leva à diferenciação das espécies, determinado por mutações genéticas e por seleção natural.

    É uma definição simples, mas perfeita. Em nenhum momento cita melhoria.
    A verdade é que o ambiente natural muda muito, e às vezes muito rápido. Nós não podemos prever essas mudanças, logo não existe um planejamento para atingir perfeição no futuro. Uma adaptação muito boa para um ambiente atual pode tornar-se um estorvo caso o ambiente mude, forçando um rearranjo dos seres da espécie, já que a alternativa é a extinção. Por esse motivo, várias espécies possuem estruturas pouco usadas, ou então mal desenhadas.
    As evidências morfológicas serão separadas em órgãos vestigiais, comentados neste artigo, embriologia comparada, e o que eu definirei como “erros de projeto” ou “design desinteligente”, que ficarão para os próximos dois.

►Órgãos Vestigiais

    Muitos criacionistas pensam ter encontrado a "pedra de roseta" ao citar largamente em seus blogs que vários órgãos vestigiais na verdade possuem função. Não existe problema algum nisso, pois muitos deles realmente são funcionais. A melhor definição para esses órgãos seria estruturas que ou não possuem função, ou apresentam-na bastante reduzida, possibilitando a sobrevivência, na maioria dos casos, sem nenhum prejuízo para o organismo que não o tenha.
    Em todos os casos, esses órgãos eram funcionais nos ancestrais daquele ser, e por adaptação a uma nova forma de vida ou seleção sexual, tornaram-se reduzidos, perdendo em alguns casos totalmente a função. Outra possibilidade é o órgão passar a ser utilizado de uma forma diferente da original, daí eu chamar a evolução de gambiarra lá em cima.

1- Apêndice
    A lista desse tipo de órgão é longa, e começaremos com o mais clássico, o apêndice. Trata-se de uma estrutura vermiforme, cuja principal utilidade é reduzir a população mundial causando apendicite. Além desta, ainda produz algumas linhagens de células de defesa do corpo, mas em uma quantidade tão reduzida que sua eliminação não causa baixa de imunidade. Mas como podemos afirmar que se trata de um órgão vestigial? Como podemos dizer se um órgão deveria trabalhar mais ou menos? Comparando com outros animais.
Os herbívoros apresentam o apêndice bastante desenvolvido, como uma bolsa para armazenar bactérias que auxiliam na digestão da celulose, sendo um bom exemplo o koala. No homem, a partir do momento que começou a utilizar carne na alimentação, o custo de manter essa estrutura desenvolvida passou a ser mais caro do ponto de vista energético do que o benefício que ela trazia digerindo vegetais. A seleção acabou favorecendo os indivíduos que apresentavam apêndice atrofiado.

 Apêndice vermiforme: muito prejuízo para pouca função.

2- Prega semilunar
    Outra estrutura muito conhecida é a prega semilunar. Trata-se de uma dobra pequena de pele próxima do olho. É um vestígio da membrana nictitante que protege o olho, como se fosse uma terceira pálpebra, e é bastante desenvolvida em aves, peixes e répteis, mas sem função em humanos. Em alguns casos, como nas águias, essa membrana pode ser transparente, permitindo que o animal enxergue de “olhos fechados”. Em espécies aquáticas, possibilita boa visão mesmo durante o mergulho.

Prega semilunar e membrana nictitante. Mesma estrutura com roupagem diferente.

3- Cóccix e vértebras extras
    O cóccix é a parte final da coluna vertebral, e serve para inserção de alguns músculos (9 deles). Essa função é pequena, pois hipoteticamente, esses músculos poderiam estar ligados a qualquer outro osso. Em outros animais, o cóccix dá origem à cauda, e em algumas anomalias genéticas, pessoas podem nascer com essa estrutura aumentada, como na gravura a seguir.

As vértebras soldadas do cóccix e anomalia genética que produziu uma cauda em um bebê.

    Além do cóccix, 8% dos humanos possuem um par extra de costelas (13 no total) como nos gorilas e chimpanzés, evidenciando uma ancestralidade em comum. Existem ainda pessoas que nascem com um conjunto de costelas no pescoço (1% da população), como nos répteis, o que causa problemas nervosos e arteriais.

4- Músculo eretor do pelo
    Esse talvez seja o meu preferido. É um pequeno músculo encontrado na base do pelo e é responsável pelo arrepio. Em outros animais pode auxiliar na defesa e na manutenção da temperatura do corpo, mas os humanos possuem poucos pelos para beneficiar-se da mesma forma.
    Os animais que possuem pelagem longa, como canídeos e ursos podem levantar os pelos, criando uma camada de ar em volta do corpo. Como o ar é isolante térmico, protege-o do frio. Já os felinos ficam arrepiados quando são ameaçados. Essa reação faz com que o outro o veja de tamanho maior, e talvez recue o ataque.
    Nós ainda nos arrepiamos quando tomamos sustos ou sentimos frio pelos mesmos motivos, mas não só o músculo é vestigial, como o comportamento que ele cria também é, não trazendo nenhum benefício.

O comportamento vestigial do arrepio e a pele em corte evidenciando o músculo eretor do pelo.

5- Dente siso
    Os sisos são os terceiros molares, dentes que surgem tardiamente e que perderam boa parte da sua função após o homem alterar sua dieta, passando a ser onívoro. Algumas pessoas não possuem mais esses dentes, e alguns indivíduos nem apresentam mais o gene responsável pela sua produção.


6- Músculos não funcionais
    Existe uma quantidade enorme de músculos sem utilidade no ser humano. Podemos citar a musculatura que possibilita mover a orelha, importante em animais como o cavalo, cachorros e gatos, que podem com isso espantar moscas e saber de que direção vem o som, mas sem função em humanos. Em alguns casos, animais que caçam em bando utilizam os movimentos de orelha na comunicação, como a leoa, que apresenta uma mancha preta para auxiliar na visualização, ou os lobos que formam matilhas.

Mancha na orelha de leoa; os movimentos da orelha servem para comunicação no momento da caça.

    Existe ainda os músculos plantar (já inexistente em 9% da população), que auxiliava os nossos ancestrais a pegar objetos com o pé, e o palmar (inexistente em 11% dos humanos), que ajudava a agarrar e balançar em árvores. Estes músculos são uma herança da nossa ancestralidade símia.


    Algumas pessoas apresentam também um grupo de músculos que possibilita mover o nariz, eu inclusive. A função é importante em animais com olfato apurado, pois auxilia no farejar de presas e em distinguir a direção do cheiro. O olfato humano é tão ruim que a função dessa musculatura não se aplica.

Lobo farejando. O movimento do focinho auxilia na identificação da direção do cheiro.

    Outro conjunto de músculos interessante são os subclávios. Trata-se de uma musculatura importante para animais que andam de quatro, mas também sem função em humanos, tanto que o número deles varia de pessoa para pessoa sem prejuízo algum. Algumas pessoas têm um, outras têm dois, e algumas não têm nenhum.


7- Órgão vomeronasal ou de Jacobson
    Trata-se de um buraco pequeno em cada lado do septo da cavidade nasal que liga a quimiorreceptores não funcionais. A função original deste órgão era captar feromônios. Enquanto pensava-se que esta estrutura não existia em primatas superiores, dados atuais demonstram sua existência em humanos.


8- Ponto de Darwin
    É uma prega de pele localizada na orelha em algumas pessoas e que poderia ser o remanescente de uma formação maior que possibilitaria amplificar o som, assim como fazemos com as mãos quando queremos ouvir um ruído distante.

Ponto de Darwin, presente em alguns humanos, e desenvolvido no macaco.

►Órgãos vestigiais em outros animais

1- Asas vestigiais
    As asas vestigiais são corriqueiras em espécies que perderam a capacidade de voar durante a evolução. A redução é comum no grupo das ratitas, que engloba as emas e avestruzes. Nesses grupos as asas auxiliam no equilíbrio durante a corrida, daí não terem sido totalmente eliminadas, apesar de que não faz muito sentido criá-las para equilíbrio e não para o voo. Seria claramente um erro de projeto, evidenciando que as asas foram readaptadas para um novo estilo de vida que envolve correr. Em alguns casos, como no kiwi, ave endêmica da Nova Zelândia, elas não estão mais presentes.

O Kiwi (Apteryx sp.)
  
    Um caso interessante de asas vestigiais é o do kakapo, espécie de papagaio noturno semelhante à coruja, encontrado apenas na Nova Zelândia. O texto abaixo foi retirado do livro “O maior espetáculo da Terra” de Dawkins:

    “Nas palavras do imortal Douglas Adams em 'Last chance to see', o kakapo
É uma ave gordíssima. Um adulto de bom tamanho pesa cerca de dois a três quilos e suas asas só servem para que ele possa sacudir-se um pouquinho se pensar que vai tropeçar em algo. Mas voar está completamente fora de questão. Infelizmente, porém, parece que não só o kakapo esqueceu como se voa, mas também não se lembra de que esqueceu como se voa. Às vezes um kakapo dá a impressão de estar seriamente preocupado, sobe correndo numa árvore, salta lá de cima, voa como um tijolo e se estatela feito uma trouxa no chão.”


 O kakapo (Strigops habroptilus).

2- Patas vestigiais
    As patas vestigiais são um bom exemplo de estruturas antigas preservadas nos seres atuais, pois temos um vasto registro arqueológico sobre isto. Os animais podem perder suas patas por vários motivos, dentre eles, readaptação a um ambiente aquático (caso dos cetáceos e talvez as serpentes) ou mudança para hábitos fossoriais (serpentes).
    No grupo dos cetáceos (baleias e golfinhos), os animais perderam apenas seus membros posteriores, e tiveram uma adaptação dos anteriores na forma de nadadeiras. A cintura pélvica e os ossos que formariam os membros posteriores ainda podem ser encontrados nesses animais, mas de forma bastante reduzida. Esses ossos ainda apresentam função, auxiliando na cópula, mas não atuam mais na locomoção, sendo outro exemplo de gambiarra. “Reaproveite o que já existe, ou então elimine”.

 Membros posteriores de baleia, sem função na locomoção.

    Algum tempo atrás um golfinho mutante foi encontrado com nadadeiras traseiras desenvolvidas, mostrando que algumas mutações podem ser revertidas. No caso das cobras, também é possível encontrar algumas delas com pequenas patas, como numa volta ao passado.

 Golfinho mutante com nadadeiras traseiras; e cobra com patas.

    A sequência evolutiva dos cetáceos atualmente é bem estudada, com vários de seus ancestrais conhecidos, como podemos ver a seguir:


    Como podemos ver, existem várias evidências que indicam que a evolução está acontecendo, mas as principais delas estão impressas no seu corpo. Você é produto da evolução. Nós não somos ferramentas bem trabalhadas e moldadas no barro por mãos de um artista. Estamos longe da perfeição.
    A realidade pode parecer dura, mas é bem o contrário. A imperfeição não suplanta a nossa complexidade. Somos máquinas fantásticas, produzidas através da disputa pela vida em um planetinha na periferia da galáxia, sem muita importância, aos cuidados de um “relojoeiro cego” e trilhando “a escalada do monte improvável”.

    No próximo artigo discutiremos alguns “erros de projeto” no ser humano e em outros animais.

Frase do dia: máquinas de replicação

A frase de hoje é do biólogo e ateu Richard Dawkins. O zoólogo é responsável por vários livros, dentre eles "O gene egoísta", "Deus, um delírio", "A grande história da evolução", "O maior espetáculo da Terra" e "A escalada do monte improvável".


"Somos construídos como máquinas de genes e educados como máquinas de memes,(...). Somos os únicos na Terra com poder de nos rebelar contra a tirania dos replicadores egoístas." Richard Dawkins


Nesta passagem, Dawkins demonstra esperança na humanidade, e imagina que nós somos os únicos com capacidade de agirmos não somente de acordo com os genes, podendo realmente ser altruístas.
O meme é um conceito criado pelo próprio, e relaciona-se a uma ideia com potencial de ser transmitida de forma semelhante a um gene.


Somos máquinas de replicação, mas podemos ser um pouco mais que isso.

Vídeo: Série Sagan capítulo 3

Abaixo temos o episódio 3 da série Sagan (Uma fábula reconfortante). Neste episódio Sagan comenta sobre as origens do ser humano e sobre a arrogância criacionista de achar que todo o universo foi feito pra nós.


Mais um vídeo recomendadíssimo.

domingo, 24 de abril de 2011

Frase do dia: a bondade divina e as vespas icneumonídeas

A frase de hoje é de Charles Darwin, naturalista brilhante e um dos pais da Teoria da Evolução. Darwin escreveu "The origin of species by the means of natural selection" e ficou impressionado com as vespas icneumonídeas que colocam suas larvas dentro de lagartas usando-as, sadicamente, na alimentação ainda vivas.


"Não consigo me convencer de que um Deus caridoso e onipotente teria propositalmente criado vespas parasitas com a intenção expressa de alimentá-las dentro de corpos vivos de lagartas." Charles Darwin


O estudo da forma de vida desses seres auxiliou em sua convicção de que não existia um ser superior direcionando a evolução das espécies.





A vespa depositando seus ovos em uma lagarta.

Piadinha de nerd

A piadinha a seguir serve pra medir o nível de "nerdice" do leitor..., se vc não entender, não é nerd.

sábado, 23 de abril de 2011

Vídeo: Série Sagan capítulo 2

O capítulo dois da brilhante série de Carl Sagan. Desta vez o astrônomo fala sobre a possibilidade de vida em outros pontos do universo e de que a humanidade a encontre.


Mais uma vez, vale os poucos minutos da exibição.

Frase do dia: a lógica ilógica de "DNA"

A frase de hoje será substituída por um pensamento do escritor de ficção científica e ateu convicto, Douglas Noel Adams (DNA). Dentre seus trabalhos, podemos destacar a fantástica "trilogia" de cinco livros do "Guia do mochileiro das galáxias".


"Sabe-se que há um número infinito de mundos, simplesmente porque há um espaço infinito para que os haja. Todavia, nem todos são habitados. Assim,deve haver um número finito de mundos habitados. Qualquer número finito dividido pelo infinito é tão perto de zero que não faz diferença, de forma que a população de todos os planetas do Universo pode ser considerada igual a zero. Daí segue que a população de todo o Universo também é zero, e que quaisquer pessoas que você possa encontrar de vez em quando são meramente produtos de uma imaginação perturbada." Douglas Adams


Adams ficou conhecido pela sua capacidade brilhante de criar situações insólitas como a de cima usando a ironia aliada aos conhecimentos científicos. Deixo aqui a dica para que leiam a sua coleção de livros.

Preconceito

A tirinha a seguir mostra um tipo de preconceito ainda muito comum na nossa sociedade.




É aquela velha história. "Respeito a sua crença, desde que você creia em algo."

Frase do dia: avanço científico e disseminação para as massas

A frase de hoje é do escritor de ficção e divulgação científica Isaac Asimov, que escreveu dentre outros, "Eu, robô" e "Homem bicentenário", ambos adaptados para o cinema.

"O aspecto mais triste da vida de hoje é que a ciência ganha em conhecimento mais rapidamente que a sociedade em sabedoria." Isaac Asimov

Essa constatação só pode ser verdadeira, pois seria uma ótima justificativa para o grande número de pessoas que atualmente discute assuntos dos quais não tem nenhum conhecimento.

Tectônica de placas: disputa em um planeta em movimento


O planeta Terra está em movimento. Qual a novidade desta afirmação?
    Aristarco de Samos afirmava o movimento da Terra no século 3 a.C., e Galileu na idade média foi condenado pela mesma afirmação. Hoje é de conhecimento comum que a Terra move-se ao redor dela mesma (rotação) e ao redor do sol (translação); mas o que não é tão conhecido é que os próprios continentes se movem.
    O primeiro pesquisador a estudar seriamente esse tipo de movimento como teoria científica foi Alfred Wegener. Ele foi muito perspicaz ao notar que alguns continentes se encaixavam como quebra-cabeças. Após ter tido este estalo, Wegener pensou em um planeta antigo onde todos os continentes estariam unidos em um supercontinente, a Pangeia. Para isso, ele imaginou os continentes em suas posições atuais como o final do processo e imaginou o movimento dos continentes ao contrário, até ficarem unidos. Algo como uma fita de vídeo voltando (que coisa antiga).
  
"Quebra-cabeça" mundial.

    Para explicar o motivo dos continentes estarem separados, Wegener postulou a “Deriva Continental”, afirmando que eles flutuavam como balsas no oceano. Como podemos imaginar, ele foi fortemente criticado por suas afirmações. Era impensável uma força capaz de impelir massas de terra continentais. Hoje sabemos que a teoria da deriva continental bateu na trave na sua tentativa de explicar como o planeta ficou do jeito que é atualmente.
  
 Gravura ilustrando a Deriva Continental.

     Estudos posteriores mostraram que os continentes não flutuavam na superfície do planeta, como supunha Wegener, era a própria superfície do planeta, na forma de placas, que flutuava sobre um manto de magma, carregando os continentes. Com essa constatação, a deriva continental foi adaptada, chegando na moderna Teoria da Tectônica de Placas. 
  
 Posição das placas tectônicas no planeta.

     A movimentação das placas ocorre por correntes de convecção do magma localizado no manto do planeta, o que causa elevação de uma placa sobre a outra nos pontos de encontro, ou distanciamento de duas delas, criando falhas geológicas e tornado essas regiões propícias a sofrer com terremotos e vulcões (hotspots), além de criar as cadeias de montanhas. Nos pontos onde duas placas se distanciam formando uma falha, nós podemos encontrar liberação constante de magma, como na dorsal meso-atlântica.
   
 A dorsal mesoatlântica é uma cadeia montanhosa submarina localizada no Atlântico.

    O magma liberado na dorsal empurra as placas em sentido oposto uma da outra. Ele possui minerais magnéticos, como a hematita, que são atraídos pelo campo magnético da Terra e tendem a se orientar nesse sentido, como fazem as bússolas. 
  
Eixo magnético da Terra.

    Quando o magma é liberado, ainda quente, os minerais estão livres para orientar-se no sentido do campo magnético. Logo em seguida o magma resfria preservando os minerais na posição em que estavam. Nos dias atuais, graças a essa característica, sabemos que os pólos da Terra mudam de posição de tempos em tempos, inclusive podendo inverter-se. Quando analisamos as rochas de ambos os lados da dorsal, podemos saber a idade das formações e quando os pólos da Terra mudaram, e também o quanto os continentes estão se distanciando. Uma das mais baixas taxas de distanciamento de placas é de cerca de 2.5 cm/ano, quer dizer 25 km em 1 milhão de anos, na Cadeia do Ártico. A velocidade mais rápida de separação acontece na Cadeia do Pacífico Leste, próximo à Ilha de Páscoa, com mais de 16 cm/ano.
    Toda essa agitação deixa "cicatrizes" na crosta terrestre, como a da foto abaixo:


A falha de San Andreas, como Dawkins destacou em seu livro "O maior espetáculo da Terra", é "um imenso rasgo longitudinal na Califórnia. Um dia a parte ocidental do estado, com a Baixa Califórnia, será uma ilha no Pacífico.".

    A tectônica de placas foi responsável pela separação de várias populações de seres vivos, criando isolamento geográfico e levando à especiação. Um exemplo exaustivamente analisado é a evolução de aves de grande porte na América do Sul, África e Oceania.

Aves de grande porte: 1- Ema (América do Sul), 2- Avestruz (África), 3- Emu e 4- Kasuar (Oceania). As espécies atuais compartilham um ancestral que viveu quando os continentes ainda eram ligados.
  
    Podemos citar também a especiação de dois bivalves (moluscos com duas conchas) que surgiram após o isolamento da população inicial pela união das Américas.

 Especiação em bivalve após a união das Américas.
  
    A quantidade de evidências de especiação por isolamento geográfico é muito grande. Entretanto, um detalhe muitas vezes esquecido é que a movimentação continental mudou a história da vida no planeta não só por gerar isolamento entre os seres, mas também por colocar em contato espécies que evoluíram separadamente. Dois ótimos exemplos são o subcontinente indiano e o continente sul-americano.
    Após a separação da Pangeia, ocorreu a formação dos supercontinentes Laurásia e Gondwana, que posteriormente se separariam nos atuais. Nessa separação, a Índia e a América do Sul tornaram-se ilhas isoladas, onde suas populações puderam diversificar-se largamente. A Índia acabou deslocando-se para o norte e chocando-se com a Ásia, o que criou a cadeia de montanhas do Himalaia. A América do Sul uniu-se ao restante das Américas, formando o istmo do Panamá (posteriormente separado pelo homem, criando o canal do Panamá). Neste artigo, focaremos principalmente no grande intercâmbio americano.
   
 
Movimentação das massas de terra, isolando populações.

    Ao se formar, o istmo do Panamá uniu duas massas de terra que ficaram separadas durante milhões de anos. A América do Norte era menos isolada, pois recebia fluxo de animais vindos da Eurásia via Estreito de Bering, possuindo exemplares de canídeos e felinos, além de animais de casco como veados, alces e cavalos. Por sua vez, a América do Sul ficou totalmente ilhada, dando origem a uma fauna exclusiva e muito diversa, que incluía espécies de preguiças e tatus gigantes, macrauquênias (sem parentes vivos), gambás e as temíveis aves do terror.

 1- Fóssil de preguiça gigante (Museu da PUC); 2- Representação da preguiça gigante; 3- Fóssil de tatu gigante (Museu da PUC); 4- Gliptodonte (tipo de tatu gigante); 5- Macrauquênia.

    Na América do Norte, o animal que estava no teto da cadeia alimentar era o tigre dentes-de-sabre (Smilodon fatalis), um felino excepcional, com corpo compacto, cauda curta e presas grandes que lembram facas afiadas. Pela estrutura do corpo, tratava-se provavelmente de um animal que caçava espreitando a vítima.

 Esqueleto de Smilodon exposto no Museu de Paleontologia da PUC-MG e reconstituições computadorizadas.

    Já na América do Sul, os manda-chuvas eram as aves do terror, grupo que incluía várias espécies, dentre elas aTitanis walleri e a Andalgalornis. As aves mediam de 1,5 a 3 metros, possuindo mandíbulas poderosas e bico aquilino capaz de rasgar a carne de suas presas. Imagina-se que alimentavam-se das populações de macrauquênias.

 Representações artísticas e fóssil encontrado no Museu da PUC-MG.

    A passagem de terra criada pela movimentação dos continentes criou possibilidade para animais desbravadores expandirem seus ambientes. Houve intensa troca de espécies, o que levou à extinção de várias que não se adaptaram à competição com os colonizadores de nicho semelhante.
    Não se sabe exatamente qual foi a razão da extinção das aves do terror, mas com certeza a competição com os tigres dentes-de-sabre colaborou com a diminuição de suas populações. A disputa entre animais tão singulares deve ter sido uma visão e tanto, e ocorreu em um mundo que não existe mais, num passado nem tão distante assim.
    Podemos considerar o grande intercâmbio americano como uma introdução de espécies exóticas em larga escala, fenômeno geralmente associado à extinção de espécies locais. Um bom exemplo é a Austrália, que sofre bastante com espécies introduzidas pelo homem.

 Grande intercâmbio americano e o istmo do Panamá, posteriormente separado pelo homem.

    O plioceno é um período pouco conhecido do passado do planeta pela população comum, afinal, não conta com o apelo dos dinossauros, mas mesmo assim possuía espécies fantásticas. Vale à pena aprofundar no estudo dessa época. Muito do que aconteceu com as populações americanas do plioceno deve-se à tectônica de placas por ter criado o istmo do Panamá. A união das Américas moldou as espécies contemporâneas, por mais estranho que possa parecer uma superfície planetária em movimento.
    A ciência não cansa de jogar luz a fatos muitas vezes improváveis, como a própria teoria de Wegener. Muito do que é considerado absurdo e risível atualmente pode se tornar verdade comprovada no futuro. Cabe à ciência a busca dessa verdade. Citando Michael Shermer (da revista Skeptic), “ciência é a arte da solução, e deveríamos aplicá-la sempre que possível.”.

    Veja um pouco sobre as aves do terror no vídeo abaixo (versão em espanhol).

Artigo originalmente publicado por mim em Curso Athenas.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Jesus x Geek

Inauguro a sessão de humor do "Detectando a Realidade" com uma tira em quadrinhos.


O site original é o Nebulosa Nerd's Bar.
A tirinha foi retirada do Bule voador.

Frase do dia: verdade e fé

A frase de hoje é do cético Dan Barker, ex-pastor evangélico graduado em teologia e que escreveu o livro "Perdendo a Fé na Fé: De Pastor a Ateu"


"A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo domingo, cantando: 'Sim, a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu devo ser forte! Amém!'." Dan Barker


Essa é para as pessoas que acham que fé é uma virtude.